Além do vermelho e branco: os laços que unem Athletic Bilbao e Atlético de Madrid
Quem assiste e acompanha os jogos do Atlético de Madrid hoje não imagina que ao longo de sua história centenária, o clube passou por altos e baixos. Hoje a terceira força do futebol espanhol, o clube colchonero vive sua melhor fase neste século. Desde a chegada de Diego Simeone em 2011, o Atletico tem chegado em finais europeias, disputando LaLiga com seus rivais diretos Real Madrid e Barcelona e com equipes competitivas em uma filosofia mais defensiva, mas que mantém a produtividade ofensiva no alto.
Sucursal de Madrid
Em 1902 foi organizado a antecessora da Copa do Rei, chamada Copa de la Coronación, cujo campeão foi o Biscaia — uma união do Athletic Club com o Bilbao FC -. No ano seguinte, o Madrid Football Club organizou o primeiro campeonato espanhol de clubes, onde só participarem três equipes: o Athletic Bilbao, o Espanyol e o Madrid. Os catalães perderam para os madrilenhos, donos da casa, por 4 a 1. Na final, para 10 mil pessoas, o Athletic foi campeão vencendo de virada por 3 a 2.
Os bascos que viviam em Madrid ficaram obviamente entusiasmados com a vitória, mas não foram os únicos. Vários moradores de Bilbao jogaram na equipe local também comemoraram o resultado da partida, o que não pareceu bom para os madridistas da equipe, que achavam que as cores do seu time deveriam vir antes dos sentimentos regionais. Isto, aliado a algumas divergências de opinião com a direção do clube madrilenho e ao fato de alguns dos referidos jogadores estarem chateados por não jogarem na equipe titular, originou uma cisão que fez com que muitos deles aderissem à ideia de fundar um novo clube de futebol basco em Madrid.
Então, na noite de 25 de abril de 1903, todos os participantes da ideia reuniram-se na Sociedade Basca-Navarra de Madrid. A reunião, que foi até a madrugada do dia 26, foi organizada por um grupo de estudantes, entre eles Ramón de Arancibia y Lebarri, Manuel de Goyarrola y Alderna e os irmãos Ignacio e Ricardo Gortázar y Manso. Juntos, eles fundaram o Athletic Club Sucursal de Madrid, uma filial do Athletic Bilbao na capital.
De filial a independente
Ambas as equipes não poderiam se enfrentar em partidas oficiais ou participar da mesma competição oficial por serem consideradas o mesmo clube. Era comum que nas primeiras Copas do Rei vencidas pelo Athletic Club e hoje contadas apenas pelo clube de Bilbao, fossem escalados jogadores da filial madrilenha.
Contudo, a primeira participação do Athletic de Madrid num grande torneio ocorreu em outubro de 1906. O então presidente do Madrid FC, Carlos Padrós, organizou o Campeonato de Clubes de Futebol de Madrid. O campeão iria para o Campeonato Espanhol como representante da região de Madrid, exceto se o referido campeão fosse o Athletic, que estava proibido de competir contra o seu clube matriz. No dia 6 de dezembro, no referido torneio, ocorreu a primeira vitória do Atlético sobre os vizinhos madridistas pelo placar de 5 a 0.
O Athletic Club de Madrid quis estabelecer-se oficialmente e formalizar os seus primeiros regulamentos, em vez de continuar a utilizar o do Athletic Bilbao. O presidente Eduardo de Acha elaborou um estatuto para obter personalidade jurídica que foi oficializado em 20 de fevereiro de 1907, separando-se oficialmente do Athletic Club de Bilbao.
Até 1911, bascos e madrilenhos tinham uniformes nas cores azuis e brancas, fornecidas pelo Blackburn Rovers. A história conta que Juan Manuel Elorduy, diretor do Athletic Club, viajou a Londres para comprar novos uniformes. Porém, ao chegar lá, descobriu que não havia camisas suficientes para atender ao pedido. Não querendo voltar de mãos vazias, comprou os do Southampton no regresso a Bilbao, fazendo do vermelho e do branco as novas cores de ambas as equipas.
Por fim, a primeira participação do Athletic de Madrid na Copa do Rei só foi acontecer em 1913. Uma vez resolvida a fusão que criou a Real Federação Espanhola de Futebol, nasceu a Federação Regional Central, na qual o Athletic de Madrid poderia se registrar como apenas mais um clube, independente do seu homólogo de Bilbao. Além disso, desapareceu a obrigação de ceder seus melhores jogadores para o torneio. Um passo de gigante para a independência do clube, embora tenha sido plenamente estabelecida nos estatutos colchoneros em 1923.
Fusão pós-Guerra
Vamos lembrar que em 1929 tivemos a fundação de LaLiga. Entre os dez times fundadores, o Athletic de Madrid esteve entre eles como um dos vice-campeões da Copa do Rei. Curiosamente, na segunda edição de LaLiga, o Athletic de Madrid teve um péssimo desempenho, terminando em último e sendo rebaixado para a Segunda Divisão. Conseguiu o acesso em 1934, e sofreu nova queda dois anos depois.
Com o início da Guerra Civil Espanhola, não tivemos temporadas de LaLiga durante o conflito. O Athletic de Madrid disputou apenas alguns amistosos soltos, sempre em benefício de alguma agremiação ou personagem do lado republicano. Enquanto isso outras equipes continuaram competindo ou deixaram o país. Vale dizer que tanto Real Madrid como Atlético participaram de partidas beneficentes em prol do lado republicano. Dos jogadores que jogaram pelo Athletic de Madrid, muitos morreram durante a guerra.
No fim da Guerra, o Athletic estava na segunda divisão espanhola, sem jogadores, sem estádio, sem dinheiro e uma dívida de 1 milhão de pesetas. Por outro lado, o Aviación Nacional foi criado em meados de 1937 com o objetivo de entreter os soldados e realizar jogos de caridade. Em 1938 foi transferido para Saragoça, e lá passou a disputar partidas oficiais, classificando-se para a primeira Copa del Generalíssimo. Após o fim do conflito, o clube mudou-se para Madrid e tornou-se um instrumento de propaganda do exército vencedor.
O Aviación Nacional procurava um clube para se fundir e jogar na Primeira Divisão, caso contrário a RFEF não permitiria. No início tentou com o Real Madrid, mas as condições que o clube militar propôs não convenceram os blancos. O Aviación exigiu que o clube se filiasse, impusesse seu nome, seu escudo, as cores de seu uniforme, 50% dos dirigentes e o presidente.
Essas exigências também não convenceram o Atlético, já que o clube não queria perder a sua identidade. Porém, precisava urgentemente dessa fusão para poder limpar as contas, ter uma equipe completa e salvar-se da falência. As negociações não foram fáceis, mas ficou acordado que:
- O novo nome do clube seria para “Athletic Aviación Club”;
- O clube continuaria a ser regido pelos regulamentos do antigo Athletic de Madrid;
- As cores vermelha e branca e calça azul seria mantidas e, no escudo, seria adicionado o emblema da Aviação Nacional com o escudo do Athletic de Madrid sobreposto;
- Concederia aos membros da Força Aérea os mesmos direitos que solicitam a adesão ao clube e aos seus membros atuais.
Em 4 de outubro de 1939, foi assinada a fusão entre o Athletic Club de Madrid e a Aviación Nacional, que deu origem ao Athletic Aviación Club.
Foi com o técnico Ricardo Zamora que o Athletic foi campeão nacional pela primeira vez na sua história, na temporada 1939/40 e conquistando o bicampeonato em 1940/41. Ainda na metade de 1940, Francisco Franco proíbe o uso de termos estrangeiros no país, com o time mudando o nome para Atlético Aviación de Madrid. Foi somente no dia 14 de dezembro de 1946, o clube decidiu retirar o nome da associação militar e, pouco depois, em 6 de janeiro, adotou o nome atual de Club Atlético de Madrid.