“Sempre acreditei que esse dia iria chegar”: Escritora revela que não gostava de ler e mostra orgulho de seu primeiro trabalho

Criar um livro do zero é um trabalho árduo, requer muito da criatividade e inspiração do autor. As vezes um projeto pode demorar anos até ser concluído. Mas a satisfação do projeto realizado e de publicar seu trabalho é uma das grandes conquistas da jovem Giovana Schubert, de 22 anos.
A escritora de Campinas realizou o grande sonho de publicar o seu primeiro livro. Lançado no dia 14 de janeiro, “Mulheres Anônimas” relata a história de um grupo de amigos lidando com problemas da vida jovem-adulta durante sua estadia na faculdade de Arlington, na região de Boston.
Em entrevista, Giovana falou de como sua trajetória começou, as inspirações para o livro e seu futuro. O livro está disponível em formato físico e digital.
1 — De onde partiu a sua paixão pela literatura?
R: Começou com uns 12 anos. E antes dos 12 anos eu não lia nada, eu odiava, não gostava de ler. Mas, eu lembro que assisti o primeiro filme do Percy Jackson, eu não sabia que tinha livro, não sabia de nada. Eu gostei muito do filme e aí eu descobri que tinha livro dele e disse ‘eu não vou ler, eu não gosto de livro’. Depois, eu assisti Jogos Vorazes e foi a mesma coisa. Só que eu me apaixonei por Jogos Vorazes e dei uma chance. Eu li Jogos Vorazes e gostei muito. Depois eu dei uma chance a Percy Jackson, li todos os livros. Depois disso eu nunca parei de ler e de comprar livro. Acho que todo mundo tem um livro, uma saga que é o estopim, para muitas pessoas é Harry Potter.
E aí, eu virei a famosa “fanfiqueira” — pessoa que escreve “fanfics”, do inglês: “história inventada” — comecei a escrever fanfic de Percy Jackson, era tudo muito ruim, eu com 13 anos escrevendo fanfic e me achando. E eu lia as fanfics e eu percebi que as minhas eram melhores, modéstia a parte (risos). Eu lia e sentia que elas não entregavam aquilo que eu queria, então comecei a fazer do meu jeito. Em 2013 eu decidi fazer a minha primeira história. Só fui concluir ela cinco anos depois. Depois ficou fazer o segundo e o terceiro, até o quarto, que é o Mulheres Anônimas.
2 — Como escritora, quais são as suas maiores inspirações para escrever?
R: Estes foram os primeiros — Rick Riordan e Suzanne Collins, autores de Percy Jackson e Jogos Vorazes, respectivamente — , mas conhecendo livros ao longo da adolescência toda, um autor que eu me apeguei muito é o David Levithan (Todo Dia). Eu gostava muito do jeito que ele escrevia, das histórias que ele criava, então ele foi uma inspiração muito grande para mim.
Eu comecei a escrever sobre fantasia. Você escrevendo atua como um contador de histórias, independente do formato. Assistia muitos filmes e séries nessa temática e traduzia isso para literatura. Eu me considero uma contadora de histórias, eu acho que meu forte é a história que eu crio, os conflitos que eu crio, as personagens que eu crio, é aonde eu tenho mais facilidade e orgulho de fazer.
3 — Qual foi o start para começar a escrever Mulheres Anônimas?
R: Foi em 2016, na escola. Eu tinha mania de escrever em aula que eu não gostava. Eu estava em um momento muito feliz, depois de ter passado por um monte de escola, ter perdido amigos, no começo da adolescência, mais perto do fim dela eu tinha um grupo de amigos meu, fixo. Eu estava ficando com alguém seriamente, o ano todo, praticamente namorando. Eu acordava 6: 30 da manhã feliz de ir para a escola porque eu sabia que ia ver eles, ia ver meu ficante/namorado e eu estava muito feliz.
Estas pessoas me inspiraram muito. Um dia, eu peguei meu caderno, devo ter ele guardado até hoje, e aí comecei a escrever sobre eles e era completamente diferente do que Mulheres Anônimas é hoje em dia. Lembro que a primeira cena que eu escrevi era uma festa de ano novo. Com certeza foi eles (os amigos) e esse ano cercado por eles que me deixavam muito feliz e me inspirarei neles para escrever.
4 — Como seus amigos e familiares reagiram a ideia do livro?
R: Eu acho que eles demoraram muito tempo para perceber que era algo sério. Eles sabem que eu escrevo desde pequena, mas escrevia para mim. Eles achavam que era um hobby, um passatempo. Eu sempre achei que seria um sério um dia, sabe? Demorou para eles levarem a sério, nunca virava assunto.
Até o ponto que eu comecei a escrever no formato de livro para publicação e aos poucos as pessoas foram levando mais a sério, meus amigos mais do que minha família. Quando chegou na etapa final, o único assunto era isso e eles muito felizes, era algo muito novo, estavam orgulhosos, meus amigos empolgados… é muito apoio de todos os lados, era algo que eu não sabia que ira ter até acontecer.
5 — As personagens da trama tem inspiração em você e seu grupo de amigos no Ensino Médio. O que mais te surpreendeu na hora de escrever a história das personagens?
R: Eu gosto muito de criar conflitos entre personagens. E são muitos personagens, é algo muito difícil de se fazer e eu tenho muito orgulho de mim. Eu fiz dez protagonistas, todos são protagonistas do seu próprio jeito. Claro, é focado nas três meninas principais — Geanna, Ayla e Lori — e no grupo de apoio delas e ainda mais focado na Geanna? Sim. Mas nós vemos o ponto de vista de todos eles, seus pontos de partida e onde terminam. É algo que eu tenho orgulho de contar a história de dez pessoas diferentes completas e de um jeito que as pessoas podem se identificar com elas.

6 — A Geanna é uma das protagonistas do livro. Pela leitura, identificamos que ela é uma mulher que quer publicar seu primeiro livro. De certa forma, existe um paralelo entre autora e personagem?
R: Com certeza. A parte dela querer escrever é um pouco diferente. Eu invento muita história, é uma facilidade minha, a Geanna não. Ela quer escrever histórias reais, quer escrever coisas da vida das pessoas que ela conhece ou da vida dela. Tem uma frase no livro que resume muito bem ela: “Geanna acreditava que sua vida era incrível, mas na verdade nunca tinha feito ou passado por grandes coisas.”
A Geanna é muito um reflexo meu, ela é muito do que eu aspiro ser, meio eu do jeito que eu desejava ser. Ela é, talvez, um pouco mais corajosa, mais ousada, ela toma iniciativas que eu queria tomar. De certa forma eu criei uma inspiração para mim também.
7 — Entendendo que o livro tem como base os acontecimentos da sua vida e a convivência com seus amigos, qual o evento mais marcante da vida? Ele está representado no livro, de certa forma?
R: Pensando na Geanna, as coisas que ela passa, não necessariamente não foi algo que eu passei. A relação que ela tem com algumas pessoas com certeza reflete em relações que eu tive com outras pessoas. Nos demais personagens, algumas coisas já aconteceram com meus amigos. São coisas muito específicas, acho que é uma mistura muito grande. Acho que as relações e algumas coisas só meus amigos vão perceber, é algo muito misturado.
8 — Como você acha que a Giovana de 20 anos reagiria a Giovana de hoje? E quanto as suas histórias sendo relatadas e publicadas num livro?
R: Eu acho que a Giovana de 20 anos sempre acreditou que isso aconteceria. Sempre acreditei que esse dia iria chegar e eu tenho orgulho da história que contei e resgatei uma ideia que eu tive com 17 anos e transformei em uma história muito maior para contar.
E ao longo desse tempo também, a Giovana de 20 anos nunca imaginou o tanto que eu aprendi, o tanto que eu conheci durante o processo de criação de Mulheres Anônimas. O livro mudou a minha vida de muitos jeitos, não só a parte profissional, mas a escrita, carreira etc. Isso é algo que eu não imaginava, os presentes que iam vir com todo esse processo.
9 — Por quê Mulheres Anônimas? Como você definiria o livro para quem quer começar a ler?
R: Acredito que o meu livro é sobre como é ter 20 anos de idade do ponto de vista de dez pessoas completamente diferentes, homens, mulheres, pessoas de classe alta, classe baixa, héteros, homossexuais… é uma história sobre amizade, sobre romance, se apaixonar pela primeira vez, sobre saúde mental, relações familiares, sonhos, sobre esporte. Esse é o foco.
Mulheres Anônimas surge diante entre essas dez pessoas, na qual essas três meninas estão num grupo de apoio para mulheres compartilharem problemas e conselhos, chamado Mulheres Anônimas.
10 — Mulheres Anônimas é uma saga?
R: É um livro único, a história não tem continuação. O final é perfeito, do jeito que tem que ser. Mas, o que eu gosto do final é que ele deixa aberto muitas possibilidades para as personagens. O ciclo delas se fechou, mas ele fechou do jeito que elas queriam? Elas chegaram aonde queriam ou abriu-se mais portas? Eu acho que muitas personagens acabam em um novo começo. Cabe aos leitores decidirem. Eu acho muito legal essa subjetividade da leitura.
Mas, eu tenho uma mania de não abandonar os meus universos, os meus personagens, eu tenho vontade de escrever contos paralelos a Mulheres Anônimas, mas continuação é algo que não pretendo fazer.
11 — O que podemos esperar do futuro de Giovana Schubert?
R: Eu tenho três livros já escritos e tenho muitos planos para reformulá-los, mudar a história de um jeito que fique ideal para o público. Eu quero que as pessoas leiam esses livros porque foi a minha primeira criação e eu tenho muito carinho por ela. Mas não sei, depende muito do ritmo.
No momento eu estou descansando porque é um processo estressante publicar um livro, mas eu não consigo parar de escrever. Eu não sei se o meu próximo livro vai ser a minha trilogia ou se eu vou começar algo do zero. Eu nunca tive pressa para escrever.