Um pouco da história do Derby da Catalunha e relação entre Barcelona e Espanyol

Um dos clássicos pouco falados dentro do futebol espanhol é o Derby da Catalunha. A rivalidade entre Barcelona e Real Espanyol não é algo tão cultuado pelos torcedores blaugranas, mas ainda sim, existem histórias por trás do confronto. Segue o fio.
DIVISÃO
Existe uma grande divisão no futebol espanhol no que se diz das rivalidades locais. Quase todas as comunidades autônomas da Espanha possuem um clube apoiador ou que já apoiou a Casa Real Espanhola e outro clube “do povo”.
Exemplos não faltam e basta a gente observar: Real Madrid e Atlético de Madrid, Athletic Bilbao e Real Sociedad, Sevilla e Real Betis, Valencia e Villarreal. E aqui, Barcelona e Real Espanyol. Mas por que um clube catalão apoiaria a Coroa?
O ESPANYOL
O Reial Club Deportiu Espanyol de Barcelona foi fundado no dia 28 de outubro de 1900, sob o nome Sociedad Española de Football. Hoje, a escolha do nome soa como “pouco catalã.”
Mas o motivo foi justamente o oposto: ser um símbolo nacionalista. Quando foi fundada, a agremiação era a primeira formada majoritariamente por catalães. Curiosamente, o Barcelona era, na época, uma entidade voltada a imigrantes.
O primeiro título da equipe foi o Campeonato da Catalunha, em 1903, que o levou para a disputa da Copa do Rei. Porém, a Sociedad Española faliu em 1906, e vários jogadores se mudaram para o X Sporting Club.
Em 1909, a Sociedad ressurgiu como Club Deportivo Español. Em 1912, o Rei Alfonso XIII concedeu o título de “Real” ao time e o uso da coroa em seu escudo. Logo, o clube passou a se chamar Real Club Deportivo Español.
Na década de 1930, após a queda da monarquia e o estabelecimento da Segunda República Espanhola, o nome do time foi revertido para Club Esportiu Espanyol, em prol de um nome mais catalão. Após a Guerra Civil Espanhola, o nome foi revertido.
As primeiras cores do time foram o amarelo, mas a partir de 1910, o clube adotou o azul e branco. É uma homenagem às cores que aparecem no escudo do almirante Roger de Lluria, que navegou pelo Mediterrâneo protegendo os interesses da Coroa de Aragão na Idade Média.
A RIVALIDADE
Embora seja o derby local mais jogado na história da La Liga, é também o mais desequilibrado, com o Barcelona sendo esmagadoramente dominante. Em quase 200 jogos, são 114 vitórias blaugranas contra 36 vitórias blanquiazules, fora 42 empates.
Em La Liga, o Espanyol só conseguiu terminar acima do Barça em três ocasiões em quase 70 anos e a única final da Copa del Rey foi vencida pelo Barça em 1957. O Espanyol tem o consolo de conseguir a maior vitória do clássico: 6–0 em 1951.
Porém, a rivalidade aumenta no âmbito político: durante a ditadura de Primo de Rivera (1923–1930), o Barcelona foi a personificação do sentimento catalão oprimido, em contraste com o Espanyol, que cultivava uma espécie de conformidade com a autoridade central.
Para os blanquiazules, um dia de derby é dia de guerra. O jornalista Quim Ferré, da 90min Espanha, destacou a importância do clássico para os torcedores do Espanyol.
Mais do que isso, a mídia catalã sempre acaba dando muito destaque ao Barcelona. Claro, é o maior clube da região. Por outro lado, notícias sobre o Espanyol sempre são em tons negativos, quase como se o clube não fosse um time catalão.
A história política deste duelo tem um outro lado pouco abordado. Há na cidade uma linha de nacionalistas catalães que enxergam no Espanyol o real sentimento patriótico. Além de ter sido o primeiro clube da liga a ter majoritariamente jogadores catalães no elenco.
Há quem diga que existe um discurso de demagogia por parte do Barcelona. Segundo eles, os culés não realizam ações concretas pela independência, além do clube ser repleto de estrangeiros, o que seria uma contradição.
Apesar dessas diferenças de ideologia, o dérbi sempre foi mais relevante para os torcedores do Espanyol do que os do Barcelona devido à diferença de objetivos.